segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Por que é tão mais barato?


Os produtos nos Estados Unidos custam até três vezes menos do que no Brasil. A combinação de dólar barato, imposto alto e custos elevados leva o consumidor brasileiro a torrar bilhões no Exterior em vez de gastar aqui e impulsionar a economia nacional.
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Qualquer brasileiro que desembarca nos EUA se impressiona com a diferença de preços. O mesmo item no Brasil custa duas, três vezes mais do que nas lojas de Nova York, Miami ou Los Angeles. O abismo é tão grande que, em algumas ocasiões, vale a pena ir até os EUA comprá-lo. Um dos modelos de sapato masculino da Salvatore Ferragamo, por exemplo, custa no Shopping Iguatemi, em São Paulo, R$ 2.990. Com esse dinheiro, é possível adquirir uma passagem para Miami e ainda trazer o calçado. Isso explica por que os brasileiros despejaram US$ 21,2 bilhões em compras no Exterior no ano passado, quase o triplo do gasto de 2007. Estima-se que 60 mil toneladas de roupas, acessórios e calçados entraram em solo nacional nas malas dos turistas. A questão de fundo é: por que é tudo tão caro no Brasil? Mais: o que é preciso fazer para que esse dinheiro seja gasto no País, movimente a economia nacional e gere empregos no comércio?

A resposta não é simples, há um conjunto de fatores envolvidos. “A principal influência, sem dúvida, é a taxa de câmbio”, diz Túlio Maciel, chefe do departamento econômico do Banco Central. Mas não é a única explicação. Especialistas ouvidos por ISTOÉ listam outras cinco causas para os preços elevados no Brasil: impostos, logística, custo administrativo, volume de vendas e margem de lucro do varejista. São questões que o País precisa enfrentar sob pena de ver a classe média transferir de vez suas compras para os Estados Unidos, que, atolados pela crise financeira, estão de portas abertas e tapete vermelho estendido para os brazucas.
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Para reverter esse quadro, é preciso retomar a competitividade brasileira e reduzir os tributos. “Estamos desalinhados com o mundo e desindustrializados, com juros e impostos altos e custos logísticos e de mão de obra nas alturas”, avalia Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit). “Só uma indústria brasileira forte derrubará os preços dos importados”, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-presidente do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. “Hoje o brasileiro viaja para comprar. Essa é a regra e nada vai mudar a curto prazo. Por isso é preciso simplificar os impostos.”
Enquanto os governos e o Legislativo não acordam para essa realidade, cada vez mais brasileiros farão as malas para ir às compras – que hoje incluem todo tipo de artefato. A carioca Fátima Bahia, dona de uma clínica de estética, já foi cerca de 40 vezes para os EUA, onde adquiriu 90% de suas roupas. Na próxima viagem, marcada para abril, além dos usuais cremes, xampus, suplementos vitamínicos, bolsas e sapatos, ela planeja trazer um par de ventiladores de teto para sua casa. Em Nova York, Fátima contrata os serviços da VIP Driver, empresa especializada em levar os turistas brasileiros aos outlets e shoppings da região. Assim, encontrou bolsas Fendi por metade do preço e sapatos Christian Louboutin por R$ 1,4 mil, uma pechincha se comparados aos R$ 4,5 mil cobrados aqui. “Me acostumei a ponto de praticamente não comprar no Brasil”, diz a empresária, que certa vez voltou dos EUA com seis malas de 32 quilos cada uma. Sorte de Sérgio Castro, dono da VIP Driver, cuja lista de clientes só faz crescer. “O brasileiro vem com mala e quer voltar com contêiner”, resume ele.

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Fonte: Revista Isto É

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