Único estilista brasileiro que integra a Câmara de Alta-Costura da França, o mineiro Gustavo Lins, radicado naquele país há mais de 20 anos, está em Belo Horizonte, a convite da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), para ministrar o curso "Modelagem Intuitiva". O próximo módulo será realizado em Paris.
Entre os alunos, ficaria impossível distingui-lo se não fosse pelo uniforme utilizado pelos aprendizes. Dividido entre os três espaços, que abrigam os 20 instrutores do Senai em treinamento e mais 22 jovens alunos do Centro de Desenvolvimento Tecnológico para Vestuário (Modatec/Senai) que se preparam para ingressar no mundo da moda e no setor têxtil, Lins demonstra em ações o conceito que diz reger a sua vida: profissionalismo.
Encantado com a disciplina dos novos aprendizes o estilista, que nasceu em Belo Horizonte, diz que valeu a pena aceitar o convite. " bom ver essas pessoas se desenvolvendo. uma turma corajosa, que sabe ouvir e é ávida por conhecimento e oportunidade. Aqui o meu trabalho é passar um pouco do que aprendi na Europa. Mostrar para eles que é possível solucionarmos os problemas que aparecem dentro das condições que temos. Para isso é preciso dedicação, esforço e disciplina, ou seja, trabalho", ensina o estilista que também suja as mãos de cola, fura os dedos com a agulha e não se nega a tirar cada dúvida individualmente.
Dono de uma maison em Paris, o estilista - Câmara de Alta-Costura da França - passou pelas grifes mais prestigiadas da Europa, como Louis Vuitton, Dior, Jean Paul Gaultier, além da japonesa Kenzo. Hoje, a grife Gustavo Lins apresenta suas coleções na semana de alta-costura, ao lado da Chanel e da Givenchy. "Participar da Câmara é um atestado de qualidade e profissionalismo. Significa um nível de excelência que exige muito trabalho de uma equipe afinada. Na França existe uma cultura da indústria. Moda não é arte, é business, e exige rigor técnico e administrativo", decreta com toda a sua experiência.
Instalado no bairro do Marais, em Paris, Lins distribui sua moda pela Europa, Ásia, Estados Unidos e Oriente Médio. O Japão é um mercado especial e chega a consumir 30% da produção. Mesmo sem vender no seu país natal o estilista, que se formou em arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) antes de partir para a Europa, pretende dedicar cada vez mais tempo ao Brasil.
"Meu objetivo no Brasil é ajudar na formação dessas pessoas que têm tanta vontade de aprender. Não temos ainda uma indústria verdadeiramente estruturada no Brasil. O mito de que a criatividade resolve todos os problemas da produção é falso. Aqui todo mundo quer ser estilista. Mas como produzir se não tivermos bons profissionais no corte, na costura, na modelagem? Quero passar para as pessoas a importância do rigor técnico, da organização, da limpeza. Tudo isso resulta na qualidade do produto. Eu aprendi na prática, tentando e errando, então acho que posso encurtar esse caminho pra eles", explica.
Gargalo - O proprietário e "mente criativa" da maison Gustavo Lins nunca foi caracterizado como um "estilista brasileiro", apesar de fazer questão de deixar clara a sua origem e influências. O mineiro, que na hora de trabalhar raciocina em francês, avalia que a moda brasileira ainda vive de talentos isolados e carece de identidade. "O Brasil precisa estruturar a sua indústria da moda. Iniciativas como o curso do Senai são louváveis porque vão dar base à indústria. Aqui posso orientar na questão de escolha e aproveitamento de materiais, nas possibilidades de uso das máquinas, no valor do trabalho em equipe, o rigor dos prazos e do padrão de qualidade e, principalmente, na valorização da autonomia. Atuo como um gerente, alguém que tem a visão de conjunto, mas o trabalho é deles. Cada um tem um projeto de trabalho e de vida e eu quero que eles tenham segurança para seguir em frente, com seus sentimentos, ideias e influências", completa.
143 anos de profissionalismo - Em 1868 foi criada, em Paris, a Câmara de Alta-Costura da França. Um século mais tarde, a entidade passou a fazer parte da Federação Francesa da Costura, do Prêt-à-Porter, dos Costureiros e dos Criadores de Moda. Dois outros órgãos ainda compõem a Federação: a Câmara Sindical do Prêt-à-Porter, dos Costureiros e dos Criadores de Moda e a Câmara Sindical da Moda Masculina.
As mais de 100 marcas associadas têm renome internacional e são grandes exportadoras. A federação tem como principais funções estabelecer o calendário das coleções, definir para quais meios de comunicação serão enviados os convites para assistir aos desfiles, acompanhar a implantação das marcas associadas no mercado estrangeiro e defender os direitos de propriedade intelectual das associadas.
Fonte: Diário do Comércio
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