domingo, 5 de fevereiro de 2012

Brasileiro da Alta-Costura Prepara Linha para Classe C

O mineiro Gustavo Lins passou a integrar, em 2011, seleto grupo de estilistas
A alta-costura francesa se tornou algo raro. Das mais de 60 grifes que existiam após a Segunda Guerra Mundial, restaram hoje, por razões diversas, apenas 11. E um brasileiro passou a integrar o seletíssimo grupo de estilistas de que podem utilizar a denominação "alta-costura", termo protegido por lei na França: o mineiro Gustavo Lins. Após conquistar espaço no concorrido mercado francês, ele irá agora utilizar seus talentos em projetos ligados ao Brasil.
Atualmente, ele negocia com uma marca brasileira, cujo nome prefere não revelar, a criação de uma linha de roupas que visa também o mercado internacional. A primeira peça de vestuário dessa parceria deverá ser lançada no final deste ano, contou o costureiro ao Valor. "Os artigos seriam inicialmente voltados para a classe A, mas a ideia é democratizar a coleção e fazer produtos de qualidade, em outras versões, para as classes C e D", afirma.
O costureiro também realizará neste ano a formação de mão-de-obra têxtil no país, graças a um acordo já firmado com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG).
Lins é o primeiro brasileiro e latino-americano a ter o status de membro permanente da Câmara Sindical de Alta-Costura da França, o que foi obtido em 2011 e acaba de ser renovado neste mês. Ocimar Versolato também havia feito desfiles de alta-costura em Paris, em meados dos anos 90, mas como "convidado".
Formado em arquitetura, passo a passo (ou de fio em agulha, como diriam os franceses) Lins foi alinhavando sua trajetória na moda. Em meados dos anos 80, ele foi para Barcelona, na Espanha, fazer um doutorado em arquitetura. Mas, paralelamente, se inscreveu em um curso sobre as técnicas de base da costura. E optou definitivamente por essa profissão.
Ele se instalou em Paris em 1989 e entrou rapidamente na área. Durante 14 anos, trabalhou como modelista para as maiores grifes francesas: Jean-Paul Gaultier, Louis Vuitton, Kenzo, Balenciaga, entre outras. Em 2003, sem nunca ter estudado em uma escola de estilismo, ele decidiu criar sua própria marca, que leva seu nome, inicialmente com modelos masculinos. Pouco depois, veio a coleção feminina de prêt-à-porter. E desde 2007 o brasileiro já vinha participando dos desfiles de alta-costura como "convidado" da federação francesa.
Para Lins, ouvir o comentário de que seus modelos são "simples" é um "elogio", afirma. "A peça de alta-costura que leva centena de horas para ser realizada é algo que corresponde ao século 19." Ele prefere peças que possam ser usadas o dia todo. Os estudos de arquitetura são aplicados na moda. "Roupa tem de ser prática. É como uma casa onde você vive", diz Lins em seu ateliê, no bairro do Marais, em Paris.
O quimono japonês, cujo corte estruturado sempre o fascinou, se tornou a referência estética de seus modelos nos últimos anos, tanto femininos quanto masculinos. John Galliano, ex-costureiro da Dior, comprou vários casacos desse estilo criados pelo brasileiro. Mas a geometria do quimono tende a se transformar e a desaparecer de suas coleções, conta Lins. Isso já foi visto em seu recente desfile de alta-costura parisiense, na semana passada. Vestidos, blazers e capas inspirados na Espanha podiam lembrar, indiretamente, peças de quimonos.
Os modelos de prêt-à-porter, que representam 80% de suas vendas, custam entre € 400 e € 3 mil e são encontrados em 25 lojas seletas - como a L'Éclaireur, em Paris ou a Dantone, em Milão - em vários países da Europa e também nos Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Kwait, entre outros mercados. As peças únicas de alta-costura custam entre € 5 mil e € 25 mil e são vendidas em seu ateliê parisiense.
O brasileiro trabalha também com a grife Hermès em um projeto para reciclar lenços de seda com defeitos e retalhos de couro e transformá-los em novas peças. Ele ainda é consultor da Lacoste na área de modelismo industrial. Essas colaborações para grandes grupos permitem injetar recursos nos projetos e desfiles de sua própria marca.
Para Lins, é inevitável que uma marca de moda, para se expandir e ter maior visibilidade, se associe a um investidor financeiro ou grande grupo. É justamente o que ele busca atualmente, já que tem projetos de lançar sua grife nas áreas de perfumes, cosméticos, acessórios, sapatos e artigos para casa.

Nenhum comentário: